21/09/2021 09h18 - Atualizado 21/09/2021 09h18

Artigo- Setembro Amarelo: Proteção pela Vida

Por Terezinha
para IARGS

Artigo da Presidente do Instituto Proteger, Drª Melissa Telles Barufi, associada do IARGS;

e da Samantha Dubugras Sá, Psicóloga Clínica; Dra. em Psicologia e Diretora Interdisciplinar do Instituto Proteger

Tema: Setembro Amarelo: Proteção pela Vida

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O suicídio é uma das principais causas de morte no mundo todo. Entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio foi a quarta causa de morte depois dos acidentes de trânsito, tuberculose e violência interpessoal. O Rio Grande do Sul apresenta altas taxas de suicídio, principalmente entre adolescentes de 15 a 19 anos. Entre os transtornos mentais associados ao comportamento suicida está a depressão, que é, também, uma das principais causas de doença e incapacidade entre adolescentes.

Coube a nós a nobre oportunidade de ocupar este importante espaço para compartilhar a informação de que é possível prevenir o suicídio. Mas, para isso, é necessário acelerar o passo e colocar a proteção da vida como prioridade. A meta global é de redução de um terço dos casos de suicídio até 2030. Assim, é preciso uma aceleração significativa na Proteção à vida.

O cenário atual, onde as medidas de restrição como o isolamento e o distanciamento social foram as principais maneiras para controlar a contaminação da população pelo vírus SARS-COV-2, um tipo de Coronavírus responsável pela doença COVID-19, está sendo um cenário fértil para o aumento da violência intrafamiliar, ampliando os fatores de risco associados ao comportamento suicida.

Estas medidas foram e ainda são necessárias, mas é importante reconhecer que os seus efeitos colaterais são significativos, especialmente à dificuldade de geração de renda (por exemplo a queda na demanda de serviços informais) nas famílias mais vulneráveis. O fechamento das escolas que distanciou as crianças, adolescentes e jovens da rede de proteção deve ser considerado, também, como fator de risco.

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) divulgou que cerca de 50% das pessoas que participaram de uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial no Chile, Brasil, Peru e Canadá, um ano após o início da pandemia, relataram que sua saúde mental havia piorado. Outra pesquisa conduzida pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) monitorou a saúde mental de 7 mil crianças e adolescentes de todo o país, desde junho de 2020, evidenciando que uma em cada quatro crianças e adolescentes ouvidos apresentou ansiedade e depressão durante a pandemia com níveis clínicos, ou seja, com necessidade da intervenção de especialistas.

Dez de setembro foi o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. No Brasil, o “Setembro Amarelo”, como o mês de prevenção do suicídio foi, em 2015, uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). A população tem que ser conscientizada, psicoeducada. Se estiver um pouco mais ciente, passa a entender que o problema existe e que pode acontecer com alguém próximo. Precisamos perceber quando outra pessoa possa estar em risco e dizer a ela: “Vamos conversar, eu posso te ouvir, te ajudar, vou com você”.

O comportamento suicida decorre de uma DOR PSICOLÓGICA insuportável e o sentimento de ambivalência é um elemento característico nas pessoas que pensam e tentam suicídio. Quase sempre querem, ao mesmo tempo, alcançar a morte, mas também viver. O predomínio do desejo de vida sobre o desejo de morte é o fator que possibilita que a prevenção do suicídio seja possível. Por isso, TEMOS que falar abertamente sobre suicídio e ouvir, atenta e empaticamente, SEM JULGAMENTOS, as pessoas que falam sobre “querer morrer”, sobre “não aguentar mais”. Esses são, sem dúvida, pedidos de ajuda!

A vida é um direito que transcende a uma única área do saber. No cenário jurídico é resguardada como um direito imprescindível, pois, sem a vida, qualquer outro direito deixa de ser fundamental, mas também não se pode pensar a vida sem a garantia de se viver com dignidade. Ao Estado é dado o dever de garantir este direito por meio de políticas públicas, “respeitando os princípios fundamentais da cidadania, dignidade da pessoa humana e valores sociais do trabalho da livre iniciativa; e, de uma sociedade livre, justa e solidaria, garantindo o desenvolvimento nacional e erradicando-se a pobreza e a marginalização, reduzindo, portanto, as desigualdades sociais e regionais.”

E, sem a intenção de finalizar, mas sim como um convite para seguirmos em uma construção coletiva para Proteger a vida, vale lembrar que a ação “Setembro Amarelo”, que visa a conscientização e a prevenção do suicídio, teve inspiração na história de Mike Emme, nos Estados Unidos. O jovem tinha um Mustang 68 que ele mesmo restaurou e pintou de amarelo. Em 1994, com 17 anos, cometeu suicídio. Mike não soube como pedir ajuda. No funeral, seus pais e amigos montaram uma cesta com cartões e fitas amarelas com a mensagem: “Se precisar, peça ajuda”.

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