19/09/2018 16h14 - Atualizado 19/09/2018 16h20
Artigo do Dr Cesar Vergara Martins Costa: A Advocacia de joelhos
Por Terezinha
para IARGS
para IARGS
O associado, membro do Conselho Superior e do Conselho Fiscal do IARGS, Dr Cesar Vergara de Almeida Martins Costa, teve seu artigo, intitulado de “A Advocacia de joelhos”, publicado hoje, dia 19/09, no ZH Online.
Segue a réplica abaixo:
A classe dos advogados assistiu, estarrecida, ao vídeo que circulou célere pelas redes sociais, no qual a digna advogada negra e fluminense Valéria Santos, no pleno exercício de suas atribuições profissionais, viu-se rendida e algemada, no dia 10 de setembro. O fato ensejará um dos maiores desagravos públicos pelo Conselho Federal da OAB. Lutava a advogada pelo direito de examinar a contestação oferecida pela parte adversa, à dialeticidade inerente ao estado democrático. A advogada estava diante de uma “Juíza leiga”: leiga ao ponto de ignorar por completo o que é Justiça. A cena dantesca em que a advogada, ao cair de joelhos, implora pelo direito de exercer sua profissão, como lhe assegura a lei, desvela a ponta de um iceberg: uma nação que se rendeu ao arbítrio, à truculência, ao autoritarismo e ao discurso do ódio. Lamentavelmente, a leiga agressora não está sozinha. São inúmeros os casos de violação de prerrogativas profissionais da Advocacia que revelam uma postura irascível de quem deveria precisamente apaziguar. A história é antiga. Esquilo retrata com maestria as figuras míticas das Erínias (fúrias) que representavam as vingadoras implacáveis dos crimes de sangue: a Justiça vindicativa. Na peça Orestéia, com o auxílio da deusa Palas Atenas, as Erínias se transformam em Eumênides, e de fúrias vingadoras passam a protetoras da polis: é a passagem da Justiça como vingança para a justiça fruto do diálogo, ditada pela deusa Diké. O advogado é essencial à administração da Justiça: quando a Advocacia é algemada e prostrada, é a cidadania que se curva e se acorrenta. A “Juíza” leiga que aferrolhou a advogada representa a opção por uma Justiça Brasileira da truculência e da fúria no lugar da Justiça do respeito ao diálogo e à “contra–dicção”, fundamentais ao um Estado de Democracia. Representa não só o despontar de um iceberg que há muito se ocultava, como o despertar de um projeto de nação para o qual devemos estar atentos. Um projeto antigo: sim, porque o Brasil do ódio é velho, negreiro e sempre gostou de grilhões.
César Vergara de Almeida Martins Costa