28/07/2020 07h08 - Atualizado 02/08/2020 11h16

Finanças em tempos de Covid-19

Por Terezinha
para IARGS

Artigo do advogado e assessor de investimento, Dr Ártico Biolo Soares

Tema: Finanças em tempos de Covid-19

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No Brasil, nesse período de pandemia, vivemos os desafios de superar uma grave doença que desafia a saúde pública. Em paralelo, somos surpreendidos pela política monetária do Governo Federal reduzindo a taxa básica de juros. 

Diante da nova redução de 3% para 2,25% na Taxa Selic – a taxa básica de juros, jamais fomos tão provocados a nos debruçar sobre nossas finanças. Desse modo, interessa uma reflexão particular: estou deixando de ter melhor rendimento nas minhas aplicações? É fato, nunca como agora, a rentabilidade da poupança nos causou tanto desconforto. Por força disso, atualmente é mais difícil cuidar do dinheiro que se tem do que ganhá-lo. 

A taxa Selic baixa torna o custo do empréstimo mais acessível, o financiamento imobiliário mais atrativo e facilita o consumo. A Cédula de Depósito Interbancário – CDI é a taxa sobre a qual são regulados empréstimos de um dia de operação entre bancos e serve de referência para muitos investimentos. Selic e CDI se relacionam de modo muito semelhante, por isso exige atenção do investidor sobre ambos no momento da escolha de quais produtos investir, havendo a recomendação de optar por aplicações com rendimento acima do CDI. 

Com os conceitos claros, a pergunta é inevitável: quais são as oportunidades de investimento com a Selic a 2,25% ao ano? Para que essa questão seja bem entendida, é importante frisar: a regra primordial em investimento é a diversificação. Será ela que diluirá o risco e aumentará o retorno da carteira. 

Por esse entendimento, percebe-se que a aplicação em renda fixa[1] é fundamental em qualquer carteira, porque se ajusta aos mais variados perfis de investidores. Sendo ela, inclusive, a responsável por garantir a liquidez dos recursos de emergência da família do investidor em um horizonte mínimo de seis meses, a fim de que pague dívidas, garanta o sustento e o padrão de vida da família de quem está investindo. Particularmente em relação à poupança, essa tradicional modalidade de aplicação teve sua rentabilidade reprimida pela política monetária, dando como retorno 70% da Selic ou 1,58% ao ano. Desse modo, pode ser mais vantajoso para o investidor aplicar no Tesouro Selic (a Letra do Tesouro Nacional), já que garante rentabilidade de 100% da taxa básica de juros, acima dos 70% da Selic. 

Em que pese a importância estratégica da renda fixa, há quem busque incrementar a sua rentabilidade. Muitas pessoas têm se perguntado se estão deixando de ganhar dinheiro nas suas aplicações e a reposta é talvez. Talvez, porque sempre deve ser analisado o perfil do investidor, a tolerância a risco de cada indivíduo e o tempo no qual deixará investido o seu dinheiro. Pensando em todos esses fatores é igualmente verdade que o país está passando por uma forte mudança cultural. Conforme recente pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas[2], 46% das pessoas que investiam por seus bancos tradicionais migraram para plataformas de investimento. Essa pesquisa vem ao passo de uma segunda estatística, publicada pela B3[3]: no estudo, aponta-se que a bolsa brasileira alcançou 2,38 milhões de novos CPFs cadastrados em Abril de 2020[4], 46% a mais de investidores em comparação ao mesmo período de 2019, resultando-se em um volume financeiro de R$ 285,4 bilhões de reais. 

Reconhecendo-se a possibilidade dos CPFs serem contados mais de uma vez, caso o investidor tenha cadastro em pelo menos duas corretoras, isso não impede a surpresa e a relevância desses dados, obrigando-se à reflexão: com esse número crescente de investidores, quais são os riscos e os benefícios da aplicação em ações? Como em toda matéria de investimentos, os riscos sempre são determinados pelo dono da aplicação. 

O risco nada mais é que a chance de um investimento dar resultado diferente do esperado no início da operação, desse modo, é sempre aconselhável permanecer com o dinheiro disponível para aplicação em renda variável por prazo mínimo de 2 anos. Nesse transcurso, a bolsa passará por ciclos de alta e realizações de lucros que, ao final, deverão impactar positivamente o saldo investido. 

Rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura, no entanto, no mercado de capitais, há inúmeros casos de ações que, em espaços maiores ou menores de tempo, atingiram valorizações significativas, contribuindo para que os investidores atingissem retornos mais atraentes dentro de um mês e durante o ano. O raciocínio é: há chance de algum banco brasileiro quebrar? E as mineradoras podem falir? Para ilustrar vemos as ações da Petrobrás em fevereiro de 2016, no auge da Lava Jato, valendo R$ 4,15; já em fevereiro de 2020, passados quatro anos, os seus ativos foram negociados por R$ 41 reais. Outro cenário: uma importante construtora, no dia 10 de Março de 2020, tinha o seu papel oferecido a R$ 12,53 reais; no pregão de 21.07.2020, três meses depois, essa mesma construtora tinha sua ação negociada ao preço de R$ 27,44 reais, ou seja, com 115% de alta. 

A diversificação dos investimentos é a melhor estratégia para aliar risco e retorno. Investir em Renda Fixa como Tesouro Direto, financiando a dívida pública, tanto quanto aplicar em ações são evidências da sofisticação dos investimentos dos poupadores brasileiros. Logo, apesar das dificuldades da pandemia, as finanças em tempo de Covid-19 sairão fortalecidas com todo esse contexto no qual vivemos. 

[1] Conforme estudo da Planejar, Instituto responsável por certificar os planejadores financeiros, dos R$ 5,9 trilhões investidos no Brasil, 86,5% estão direcionados aos produtos mais conservadores do mercado.  Do universo de renda fixa, a previdência privada recebe 32,44% dos aportes, seguida da poupança com 15,82%. https://www.sunoresearch.com.br/noticias/renda-fixa-destino-dos-investimentos-brasil/ [acessado em 22.07.2020]

[2] https://einvestidor.estadao.com.br/comportamento/investidores-bancos-corretoras-fgv/ [acessado em 20.07.2020]

[3] A [B]³ ou Brasil, Bolsa, Balcão, é a resultante da fusão ocorrida em março de 2017 entre a BM&FBovespa  e a Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos. Portanto, atualmente, a B3 é a responsável por administrar a bolsa brasileira. www.b3.com.br/pt_br/ [acessado em 20.07.2020]

[4]https://valorinveste.globo.com/mercados/renda-variavel/noticia/2020/05/06/numero-de-investidores-pessoa-fisica-na-bolsa-sobe-a-238-milhoes-em-abril.ghtml [acessado em 21.07.2020]

 

artico.soares@deltainvestor.com.br

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