24/04/2018 18h34 - Atualizado 25/04/2018 08h24

Palestra- A Mulher na Pós Modernidade – o que está em jogo – militância feminista ou feminismo de viés psicológico

Por Terezinha
para IARGS
A psicóloga clínica Sonia Martins Sebenelo, especialista em Psicoterapia Individual, Casal e Família, foi a palestrante do Grupo de Estudos de Direito de Família de hoje, dia 24/04, do IARGS, abordando o tema “A Mulher na Pós Modernidade – o que está em jogo – militância feminista ou feminismo de viés psicológico”, sendo recepcionada pela presidente do instituto, Sulamita Santos Cabral. Após sua exposição foi promovido um debate sobre a pauta em questão.
Mestre em Ciências Sociais e ex-presidente da SPRGS (Sociedade de Psicologia do RS), a especialista informou que, assim como as sociedades se transformam, o papel da mulher vem adquirindo diferentes nuances ao longo dos tempos: “Mais do que afirmar, é preciso indagar sobre o quanto o processo de emancipação feminina trouxe ou ainda deve trazer, além da igualdade, satisfação e plenitude”.
No seu entendimento, uma das principais revoluções do século XX foi a mudança nos papéis sociais da mulher – um processo em andamento no século XXI – segundo o historiador Hobsbawm.
Traçando uma linha do tempo, Sonia Sebenelo distinguiu como o sexo feminino foi sendo encarado ao longo da história. A primeira mulher, disse, era tida como diabólica, perigosa, responsável pelos males do mundo. A segunda, surge idealizada, a partir da Idade Média, no discurso dos trovadores e no Renascimento, numa transformação da bruxa em Deusa (na visão do pintor italiano Botticelli). A terceira mulher, referiu, surge a partir dos anos 60, com a contracepção e o direito ao trabalho reconhecido. “Inicia-se um processo de igualdade incentivado pelo surgimento das democracias modernas”, informou.
Em sua pesquisa sobre “Gênero e Poder – possíveis contradições sobre o processo de emancipação feminina, um estudo da presença feminina na Câmara Municipal de Porto Alegre” (2009), indagou-se sobre o porquê da assimetria de gênero num mundo onde as mulheres, ao conquistarem cada vez mais espaço público pela crescente escolarização e maior inserção no mercado de trabalho, ainda não têm assegurado, após mais de 50 anos de feminismo, a igualdade entre os sexos.
Segundo Sonia, o estudo apontou a possibilidade de entendimento sobre a defasagem na relação dos avanços femininos e a percepção de um bem-estar quanto aos avanços sociais, muitos dos quais incentivados pelo feminismo. “Dinâmica repetidamente encontrada na clínica psicoterápica, no atendimento de mulheres”, destacou.
Na sua avaliação, considerando as transformações históricas que trazem a evidência de um novo papel social da mulher, o conceito de feminilidade, como variável investigada, ainda carrega as representações simbólicas da ordem relativa ao modelo de dominação masculina. “Quanto à evolução do movimento de emancipação feminina, observou-se a ausência de uma reflexão atual”, acentuou.
Concluiu, no seu trabalho de pesquisa, que o novo é que poucas mulheres abdicam de seus anseios e desejos; o velho, é um sentimento do qual as próprias mulheres não conseguem livrar-se, e que impede inconscientemente as negociações transformadoras. “O futuro não será uma sociedade onde homens e mulheres terão os mesmos papéis, mas uma sociedade em que tudo estará disponível”, esclareceu.
Na sua avaliação, o processo de igualdade entre homens e mulheres foi influenciado pelas democracias modernas e pelo feminismo, operando transformações sociais e de costumes que deram lugar a mulher contemporânea.
Advertiu que, atualmente, nas redes sociais, muitas mulheres compartilham conteúdos sobre a luta feminista e sobre empoderamento. E faz o seguinte questionamento: “até que ponto este interesse pelo feminismo representa uma preocupação com o bem-estar da mulher na sociedade, ou pode ser entendido como um sintoma de ansiedade coletiva?”
Sendo assim, concluiu, o recrutamento político ideológico da militância feminista, se for seguido cegamente, sem a ampliação para um feminismo de viés psicológico, corre o risco de ameaçar as próprias conquistas do movimento.
Terezinha Tarcitano
Assessora de Imprensa
 

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